Os dicionários diriam que os termos flâneur e flânerie têm restrita ligação com o ato de deambular sem destino; uma prática de quem ostenta a divagação em percursos pela cidade onde não há a preocupação em chegar a algum lugar específico. O termo é aplicado, geralmente, ao ato que indivíduos citadinos executam durante os passeios que realizam pelas cidades. A característica urbana é o maior motivador para esta prática e sua origem é representada a partir da eclosão de grandes centros urbanos na Europa do séc.XIX. Mas pode-se ousar dizer que o contexto do surgimento da ação da flânerie encontra-se Paris, a cidade vanguardista do séc. XIX, palco de grandes revoluções políticas e industriais que teve, depois da queda do modelo monárquico, a imposição da burguesia detentora do poder econômico e político da época. Aqui, Paris não é apenas a capital da França, mas, de certo modo, a capital do mundo onde eclode a defesa pelos direitos humanos, reina a filosofia, experimenta-se novas formas de arte, símbolos da abertura do e para o mundo., presente nos panoramas de Daguerre e nas exposições internacionais de Grandvillle. Despertam-se também os projetos urbanísticos, como cita Benjamim, ao categorizá-la como “The Capital of the Nineteenh Century”, onde destacam-se as grandes galerias comerciais que contribuem para o crescimento do comércio, da moda e da industrialização. Paris abre-se para desafios urbanísticos com a intervenção de Haussmann, convidado por Bonaparte para alterar toda a fisionomia da antiga cidade. O Barão Haussmann, chamado como o artiste démolliseeur provocou a mais forte alteração arquitetônica já vista nas cidades do séc. XIX. Abriu avenidas, criou prédios públicos, boulevards e deu espaço para fazer surgir multidões de pessoas, de trânsito e de lucro, em nome do rigor da funcionalidade
social. (Benjamin, 2002: 42).